terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

opinião no Jornal Mais Região

Janeiro tem sido um mês pródigo em casos, em polémicas, e notícias bombásticas no futebol português. Foram reveladas parte das escutas do Apito Dourado, parte das imagens dos túneis da Luz e de Braga, parte das luvas que andam a oferecer a adversários do Benfica para ganharem jogos, e partes de acordos de vários clubes com entidades públicas, como são exemplos os acordos entre Benfica e Sporting e a autarquia de Lisboa.

Fala-se de tudo menos de desporto a sério. E não querendo deixar de contribuir para esta “onda”, debruço-me nestas linhas sobre as escutas do Apito Dourado. Ou melhor, sobre a complexa linguagem em código adoptada pelos intervenientes em algumas das gravações.

Se os aliciamentos a árbitros e adulteração de resultados desportivos já eram um dado praticamente adquirido no futebol português, estas escutas colocam a nu um problema ainda mais evidente. Alguns dirigentes do futebol em Portugal revelam muito pouca imaginação na hora de inventar um código em que possam comunicar livremente, passando impunes ao crivo da investigação.
Se a “fruta de dormir” (prostitutas) e o “café com leite” (idem) são códigos mais rebuscados, já Espadachim (árbitro chamado Espada), o Jacintio (Jacinto Paixão) e um tal de Chilritio (Chilrito) são códigos tão evidentes que provavelmente até um aluno do ensino básico consegue fazer a dedução lógica.
Adopte-se pois o código para as próximas linhas do texto.

Escutando as conversas que um tal Tripulha amavelmente colocou na internet, ficamos com a certeza que um tal de Loureirio, filho de um Loureirio do Exército, combinava antecipadamente quem ia apitar os jogos da sua equipa de xadrez, dando-se até ao luxo de pedir um penáltie quando desse jeito. Estava tudo combinado e preparado.
Está lá tudo. Escarrapachado nas gravações.
Que a Justiça é cega, enfim, é um dado já adquirido. Mas que a Justiça chegou a este ponto é que é mais difícil de entender.

Apesar de em 2010 estarmos a comemorar o Centenário da República, vivemos claramente na Idade Média. Aqui adopta-se o mesmo tipo de poder que existe em Itália (vergonha de Berlusconi) e aquela espécie de democracia na Venezuela (imberbe Chávez). O entre Portugal e estes dois exemplos é igual. Apenas temos um charme mais intenso de praticar o fascismo.

Pobre República
(artigo publicado no Mais Região de Janeiro)