sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

mercado global, jogadores locais

São 23 horas e encontro-me no Messenger com um conhecido meu que suponho ainda estar pelo estrangeiro. “Como está o Chipre?” pergunto, “estou de regresso a Portugal” responde-me. Começo então a tentar satisfazer a curiosidade e perceber as razões que fizeram um jogador de futebol trocar o campeonato cipriota pelo português, num momento em que o nosso futebol atravessa tanta dificuldade.
O excesso de estrangeiros no plantel e a condição de suplente explicava a súbita transferência para perto de casa. No Chipre, há um limite para jogadores estrangeiros a actuar em campo. Situação impensável olhando para as fichas de jogo de alguns desafios da nossa Liga Profissional. Situação impensável num mercado global, onde clubes compram jogadores em países de parcos recursos, vendem ilusões e em alguns casos, acabam por acertar na aposta (tantas vezes às cegas) que fizeram.
Embora seja a favor de um mercado justo e livre onde todos possam ter direito a uma oportunidade, a actual regulamentação na Liga Profissional, não limitando o nº de estrangeiros num plantel e nos jogadores convocados para uma partida, está sobretudo a prejudicar quem aposta na formação, a prejudicar a ascensão de jovens portugueses ao principal escalão do nosso futebol. Uma grande perda, para um país com tanto potencial e com tão bons “produtos” oriundos das tais escolas de futebol.
Ainda navegando pela Internet, deparo-me com imagens de um jogo da 2ª Divisão Distrital do Porto. Um jogo escaldante entre Ramaldense e a nova versão do ex-primodivisionário Salgueiros. Num jogo de Distrital, com mais de 4 mil adeptos nas bancadas. Algo do outro mundo, se tivermos em conta que falamos de um campeonato de âmbito amador e distrital. Mas algo perfeitamente possível se tivermos em linha de conta que o jogo se disputou no coração da cidade do Porto, onde a “afición” é movida pela paixão e pelo bairrismo. Talvez por isso se explique porque continua o Norte a vencer este duelo com o Sul. E porque há cada vez mais emblemas em risco de fechar portas pelo Algarve, Alentejo e Ribatejo. Uma espécie de regionalização nada democrática que produz vítimas a cada semana que passa.
Não será este o momento para o Instituto do Desporto agir? Infelizmente para o nosso Distrito, o Ramaldense x Salgueiros está a anos luz da realidade que aqui se vive. E há clubes a precisar de um apoio decisivo e urgente. Não será o momento de agir?
(crónica publicada no Jornal Mais Região de Fevereiro)