sábado, 22 de março de 2008

poesia de Pedro Abrunhosa

Escuto atrás da cortina
a tua voz de menina
e o bruah distante que me espera.

Doces instantes de paz, que o coração acelera
e a mão agarra sem sentir

É de veludo o casulo em que me fecho,
de seda a chave que balança no ferrolho.
Chama o meu nome, e será teu o sonho
que me envolve e me devolve a madrugada ausente.
Sente o meu perfume e o lume
que se acende no frio do bastidor.

Agora um minuto é todo o tempo que tens,
o tempo do mundo.

Sou Leopardo perdido na planície do teu colo,
onde me enrolo e deixo adormecer.

A selva balança no teu corpo
e aí me rendo à escuridão.
Voo com o falcão, e arranco pedaços ao céu.
É meu este sangue. É tua a seiva, a raiva
que desperta o ardor cruel, fiel, do amor.

Salta a gazela e o veado entrelaçados no capim.
É por mim o barulho,
por ti o lasso sossego do mergulho.