Elas são as mães:
rompem do inferno, furam a treva,
arrastando os seus mantos na poeira das estrelas. Animais sonâmbulos,
dormem nos rios, na raiz do pão.
Na vulva sombria
é onde fazem o lume:
ali têm casa.
Em segredo, escondem
o latir lancinante dos seus cães.
Nos olhos, o relâmpago
negro do frio.
Longamente bebem o silêncio nas próprias mãos.
O olhar desafia as aves:
o seu voo é mais fundo.
Sobre si se debruçam a escutar os passos do crepúsculo.
Despem-se ao espelho para entrarem
nas águas da sombra.
É quando dançam que todos os caminhos
levam ao mar.
São elas que fabricam o mel,
o aroma do luar,
o branco da rosa.
Quando o galo canta
Desprendem-se
para serem orvalho.
Crédito Foto: Jean-Jacques Dicker - Poema: Eugénio de Andrade