quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

algumas reflexões sobre a Mulher

Elas são as mães:
rompem do inferno, furam a treva,
arrastando os seus mantos na poeira das estrelas. Animais sonâmbulos,
dormem nos rios, na raiz do pão.

Na vulva sombria
é onde fazem o lume:
ali têm casa.
Em segredo, escondem
o latir lancinante dos seus cães.

Nos olhos, o relâmpago
negro do frio.

Longamente bebem o silêncio nas próprias mãos.

O olhar desafia as aves:
o seu voo é mais fundo.
Sobre si se debruçam a escutar os passos do crepúsculo.

Despem-se ao espelho para entrarem
nas águas da sombra.

É quando dançam que todos os caminhos
levam ao mar.

São elas que fabricam o mel,
o aroma do luar,
o branco da rosa.

Quando o galo canta
Desprendem-se
para serem orvalho.
Crédito Foto: Jean-Jacques Dicker - Poema: Eugénio de Andrade